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O Autor

Lenko é artista multidisciplinar: pintor autodidata, gravurista, escultor e colagista. Inspirado pela arte do retrato e por estilos como o realismo, o cubismo, expressionismo, arte de rua e grafite, o estilo visual de Lenko justapõe esses elementos com liberdade, tenacidade no uso da cor, forma, camada e aplicação rítmica. Permanece um empenho constante em relacionar o tradicional com o contemporâneo, o secular com o ancestral. A prática artística de Lenko, guiada por temas como folclore, mitologia e psicologia analítica, estressa os limites entre pessoal e coletivo, linear e pictórico, figurativo e abstrato, desenho e pintura. Em pouco tempo, seu corpo de trabalho tornou-se imediatamente identificável, porém sem sucumbir a uma "estética de assinatura". Lenko vive e trabalha entre Porto Alegre e Novo Hamburgo, RS, Brasil.

 

Atualmente: Artista plástico e artesão (pintura, escultura, ourivesaria, mosaico, técnicas mistas) – iniciado na pintura de forma autodidata. Iniciado na cerâmica por Helena C. Sperb e Eduardo Rick Martins (Novo Hamburgo, RS); moldagem e cópia de escultura em resina por Eduardo Rick Martins (Novo Hamburgo, RS). Iniciado na ourivesaria por Carlos Wladimirsky (Ateliê da Prata, Porto Alegre, RS). Iniciado na xilogravura por Cláudia F. Sperb e José Ernani Melo Chaves (Morro Reuter e Porto Alegre, RS). Iniciado no mosaico por Cláudia F. Sperb (Caminho das Serpentes, Morro Reuter, RS). Iniciado na serigrafia por colegas Matheus Flores e William Maranhão (Novo Hamburgo). Iniciado na litografia por Paulo Chimendes (Museu do Trabalho, POA). Residente fundador do espaço ateliê/estúdio Banca9, Centro, Novo Hamburgo, RS;

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SOBRE - por Saaj Mostrado

    Lenko seria um dos heterônimos de Marcelo Porto Sperb, nascido e criado em Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul, Brasil, desde 1992. Graduando em Psicologia, em 2015, o interesse pela produção artística teve origem em paralelo com o interesse pela psicanálise.

   Com gosto desenvolvido desde tenra idade pelo audiovisual, principalmente música e mais tarde fotografia e cinema, aplicara para educação universitária em publicidade e propaganda, sob a popular concepção de que essa área da comunicação vincula arte com necessidade do mercado e monetiza a criatividade. O posterior desencanto quanto ao lugar da expressão artística no ramo, alterou o curso da PP para a Psicologia, na busca de um ambiente com maior abrangência e liberdade intelectual, possuído pela ideia de que seria possível um campo de estudo e profissão que não cedesse à irascíveis demandas da cultura de consumo.

   Naturalmente obstinado pelos próprios motivos decidira ir fundo na psicologia. Dentro do campo da psicanálise floresceu a sensibilidade para com a expressão artística individual e a capacidade de representação subjetiva dos objetos do mundo para o sujeito. Dentro da ciência o objeto de estudo principal era o indivíduo. A vontade de expressão artística corresponde ao mesmo objeto: o indivíduo. Logo, o interesse pelo retrato. Não é a figura humana, é a unidade humana: corpo, mente e alma. Para alguém cujos mistérios da vida ferem fundo, Rembrandt e Caravaggio foram, dos grandes, as maiores referências no início. Rembrandt pela vivacidade pessoal dos retratados, em um possível sentido de carne; vivacidade carnal, e ao mesmo tempo as cores escuras caracterizando atmosfera dramática e misteriosa. Caravaggio pelo caráter realista das cenas representadas nas pinturas e também pelas cores escuras, temas sacros e trágicos. Era o interesse latente pelo Inconsciente; pelo oculto; pelo não-visto.

   Filho de uma cidade economicamente saudosa, a antiga "capital nacional do calçado", hoje endurecidamente conservadora, ainda proporciona riqueza para alguns, porém olha para trás para lembrar de diversidade cultural e oportunidade. Cidadãos representam pleno estado de individualismo, acreditara testemunhar sistêmica indiferença interpessoal; estado dissimulado ou patológico da liberdade individual; individualismo sem o princípio ético da coletividade. Estudante da ciência da subjetividade, no estudo do retrato, em 2015 – início da experimentação artística –, a busca era pela humanização do olhar, pela pessoalidade, em função de decorrente noção de alteridade (natureza ou condição do que é outro, do que é distinto).

   A pessoalidade é inseparável do retrato, onde o objeto principal e motivo da obra é o indivíduo ali representado. Porém a inexpressividade do sujeito retratado – elemento principal da obra – alude à impessoalidade pelo artista contestada, estipulando o contraste e a contemporaneidade do trabalho. Em uma era onde uma espécie de autorretrato é, por muitos, habitual (selfie), do indivíduo ao mundo publica-se uma imagem em certo grau conscientemente simulada; um simulacro de desejos, intenções e significantes. – veja-se que aqui não se condena nada disso, apenas aponta-se o fato.

   O objetivo do artista aqui é retirar do indivíduo retratado o arbítrio sobre a própria imagem ao mesmo tempo com que evidencia sua inexorável existência como ser humano, que por si só, representa um conjunto de conceitos. Que corpo é aquele? Quem é? Inexpressivo como quando sozinho, diante do espelho, olha no fundo do próprio olho refletido e pergunta: quem és tu? O que queres?

De 2015 para cá Marcelo segue sendo vários. Mais consistentemente, pelo menos alguns. Esses mais organizados, como o Lenko, vão-se desenvolvendo cada qual com respectivo escopo. Naturalista, abstrato, romântico, realista, surrealista. Talvez se encontram Lenko com Marcelo, eventualmente, por vez. Sabe-se lá quanto tempo leva para a integração do sujeito; conciliação ou reconciliação de todos os graus. Sequer, se há tal coisa. "Não penso no destino e, no agora, tenho vontades. Deixo que sejam. Quero tanto. Quero o que têm. Sem ter que optar. Sem 'ter que' e sim 'querer'. Sonhadores nunca aprendem. Sei também que sonho não precisa acabar. Sonhos não dormem. O sonho preconiza a realidade.

 “O que estou tentando fazer é uma estupenda, independente, coerente imagem que nunca houvera sido vista antes. Para fazer algo que é tão descaradamente público quanto extravagantemente novo e estranho, precisa-se de material... e para isso servem todos os temas. Eles não estão lá para suas próprias causas; não estão lá por motivos sentimentais; eles estão lá para alimentar essa nova, independente imagem que se tenta fazer, que se desloca para o mundo como um novo monstro.”


Frank Auerbach
Tate Publishing

“A mente do poeta é de fato um receptáculo destinado a capturar e armazenar um sem‐número de sentimentos, frases, imagens, que ali permanecem até que todas as partículas capazes de se unir para formar um novo composto estejam presentes juntas.”
 

T. S. Eliot

 “O homem criador é o homem livre, e só na plena realização da sua liberdade ele é criador, porque só há criação onde há liberdade. O exercício da liberdade torna o homem criador, embora não seja ela alcançada por todos, porque não basta dizer aos homens que são livres para que se tornem realmente livres e criadores. Se muitos nunca poderão exercitar a liberdade, a culpa não é da liberdade – essa bela palavra que só deixa de ser palavra quando é praticada e se torna ato –, mas do homem que a teme."

Mário Ferreira dos Santos
Prefácio da tradução de “A Genealogia da Moral” – Friedrich Nietzsche

 “O que podemos alcançar por nosso mérito e esforço não pode nos tornar realmente felizes. Só a magia pode fazê-lo. Isso não passou despercebido pelo gênio infantil de Mozart, que, em carta a Bullinger, vislumbrou com precisão a secreta solidariedade entre magia e felicidade: “Viver bem e viver feliz são duas coisas diferentes, e a segunda, sem alguma magia, certamente não me tocará”. Para isso, deveria acontecer algo verdadeiramente fora do natural”.

Giorgio Agambem
Profanações

 “Em primeiro lugar a imagem não é uma substância, mas um acidente, que não se encontra no espelho como em um lugar, mas como em um sujeito. Estar em um sujeito é, para os filósofos medievais, o modo de ser do que é insubstancial, ou seja, não existe por si, mas em outra coisa.
 Dessa natureza insubstancial derivam duas características da imagem. Não sendo substância, ela não tem realidade contínua, nem se pode dizer que se mova através de um movimento local. Aliás, ela é gerada a cada instante de acordo com o movimento ou a presença de quem a contempla.
a segunda característica da imagem consiste em não ser determinável segundo a categoria de quantidade, em não ser propriamente uma forma ou uma imagem, mas antes a “espécie de uma imagem ou de uma forma”. (...) O fato de ser possível referir-se unicamente a um “hábito” ou a um ethos é o significado mais interessante da expressão “estar em um sujeito”. O que está em um sujeito tem a forma de uma espécie, de um uso, de um gesto. Nunca é uma coisa, mas sempre e apenas uma “espécie de coisa”.
 O termo species, que significa “aparência”, “aspecto”, “visão”, deriva de uma raiz que significa “olhar, ver”. A imagem é um ser cuja essência consiste em ser uma espécie, uma visibilidade ou uma aparência.”

Giorgio Agambem
Profanações

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