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DESRETRATO
2018-2019

*Pinturas indisponíveis para aquisição

   Na época minha produção vinha sendo guiada pela máxima da “criação à imagem e semelhança”. Ideia extraída de versículo constituinte do que se tem como mito originador das religiões judaico-cristãs. Meu objeto de trabalho é o indivíduo. Não tanto o indivíduo como sujeito, detentor de história e caráter subjetivo, mas como símbolo, como possibilidade para história e subjetividade; corpo suscetível à significação.
   O trabalho em pintura designado como série Desretrato, teve origem na minha produção em madeira. Foi quando descobri a pintura como mosaico, como montagem, como construção; da mesma forma que fiz a escultura em madeira e também da mesma maneira como aprendi a conceber a ideia de sujeito.
   Tanto no trabalho em madeira, quanto nas esculturas em resina e na série de pinturas Desretrato, sugiro a obra de arte como corpo simbólico descolado de significado intuitivo. Leia-se aqui “significado intuitivo” como elementos visuais necessários para juízo, tomada de decisão consciente ou inconsciente quanto ao que representa determinado objeto ou corpo. 

A questão que urge é: o que se vê primeiro, objeto ou significado?
   Tratando-se de onde vivo como sendo uma comunidade evidentemente provinciana em moral e costumes, me interessa provocar a reflexão sobre a questão do corpo e seu significado, tendo em vista a subjacente possibilidade de objetificação dos corpos e a preconização de preconceitos e ações violentas contra sujeitos devido a aparência.

   Chamo o trabalho de Desretrato, pois em certo grau insinuo busto humano, porém livre de juízo de valor, de superficialidade, de fenótipo. Logo, não considero retrato. São Desretratos, pois excedo leis, normas e preceitos. É o meu jeito de fazer. Se retratasse algo ali seria um retrato do simulacro através de animo, temperamento, ímpeto. Porém, é retrato de nada, pois é do nada que surgem tais imagem. É do nada empírico, pois é do todo do meu corpo, especificamente do que em mim há de metafísico, que nasce a imagem: meu imaginário. O único compromisso com o objetivo aqui è a linha; a silhueta. Ademais é a tentativa de criar através do gesto do meu temperamento. É abstração expressiva do meu desenho através do meu corpo. É a redução da linha - mas ainda linha - , do risco; a redução da forma em nome da elevação do conteúdo. É corpo espiritual; espontaneidade, improviso, ímpeto. Porém é a redução da forma sem que se perca a dedução do relativo conteúdo e objeto de meu interesse: o ser humano.

“Infinito, de onde brota a tua fonte? Por que são os vossos sentidos orgulhosos
loucos por algo além dos teclados concebidos,
acreditam eles em espelhos mais afortunados do que a Palavra,
e matam-se? Infinito, mostra-nos os nossos papéis!”

Jules Laforgue

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